Nemesis: O Último Suspiro - PARTE 2



O som da nave rangendo, uma mistura de metal que se contorce e o murmúrio das criaturas que infestavam os corredores, ecoava nas paredes de aço da Nemesis. Sarah, Mark e Emily estavam vivos, mas a um custo imensurável. Theo, o engenheiro brilhante, que por um momento fora a chave para a sobrevivência de todos, agora estava perdido, devorado pela ameaça alienígena que transformara a nave em um pesadelo ambulante.

Os três restantes haviam conseguido escapar do centro de comando, mas o futuro parecia incerto. Emily estava a caminho de uma crise mental, seus olhos fixos e vazios, como se o peso da morte de seu amigo tivesse arrancado algo vital dentro dela. Mark, sempre o mais forte, estava agora desmoronando por dentro, uma tensão crescente nos músculos e nos olhos, como se a luta de vida ou morte estivesse finalmente cobrando o preço de sua sanidade. Sarah, por outro lado, parecia mais fria do que nunca, suas mãos firmemente apertando a arma em sua posse, pronta para qualquer coisa que viesse em sua direção.

A Nemesis não estava mais apenas um recipiente de vida; ela se tornara uma prisão em movimento, uma caverna de horrores, onde cada canto escondia uma ameaça maior que a anterior.

"Ainda podemos salvar alguma coisa", disse Sarah, tentando manter a calma, mesmo que sua própria voz estivesse vacilando. "O sistema da nave foi reiniciado. Se conseguirmos ir até o reator principal, talvez possamos desativar as criaturas. Teoricamente, se apagarmos os sinais da nave, elas perderiam o caminho para nos encontrar. Uma última chance."

"Você ainda acredita nisso?" Mark perguntou, sua voz arrastada, sua mente claramente à beira do desespero. "Estamos em um inferno. Não há chance de sobrevivermos. Mesmo que conseguíssemos desativar tudo, onde iríamos? O planeta mais próximo está a meses de distância."

"Mas a única coisa que temos é a esperança", Sarah respondeu, com uma força que parecia ter surgido de algum lugar profundo dentro dela. "Nós tentamos algo, e falhamos. Agora, tentaremos outra coisa. Cada segundo que passamos aqui, mais forte a nave fica. Se não fizermos nada, estamos condenados."

Emily, que até aquele momento parecia ter ficado em silêncio, olhou para eles com um olhar distante, como se uma parte de sua mente estivesse em algum lugar distante. Ela não estava apenas fisicamente presente; uma parte de sua alma parecia ter sido deixada para trás quando Theo morreu. "Sarah… Eu não sei se podemos voltar a ser quem éramos", ela murmurou, com os olhos cheios de desespero. "Eu não sou mais quem eu era."

Sarah olhou para ela, tentando encontrar uma resposta, mas as palavras escaparam. O que poderia dizer? Todos estavam mudados, todos haviam sido forçados a ver a morte de perto, a enfrentar o pior de si mesmos. Eles não estavam mais apenas fugindo de monstros; estavam fugindo da verdade de sua própria humanidade.

"Haverá tempo para isso depois", Sarah finalmente disse. "Agora precisamos sobreviver."

Mark olhou em volta, avaliando os corredores apertados da Nemesis. "A rota até o reator é longa, e as criaturas estão em cada canto", ele disse, seu olhar se fixando em um ponto no fundo do corredor. "Precisamos ser rápidos e furtivos."

"Não temos escolha", Sarah afirmou, sua voz se tornando mais firme. "Sigam-me."

O trio avançou pelo corredor, suas silhuetas se misturando à escuridão. O medo os acompanhava, mas também uma sensação de propósito. Eles estavam indo para o coração da nave, onde a última chance de destruir a ameaça alienígena poderia estar. Mas o que eles não sabiam era que, a cada passo que davam, estavam mais próximos de uma verdade que jamais imaginariam.

Ao se aproximarem do reator, a estrutura da nave começou a ceder. Ruídos estranhos vinham dos sistemas, e a temperatura da nave parecia aumentar. As luzes, que antes piscavam esporadicamente, agora estavam intermitentes, como se a própria nave estivesse lutando contra sua própria destruição.

"Estamos perto", Sarah murmurou, sua respiração mais rápida. Ela sabia que o reator estava próximo, mas cada movimento parecia ser acompanhado por um crescente pressentimento de que algo estava errado.

De repente, um som alto e retumbante reverberou pelos corredores. Era um som metálico, como se as paredes da nave estivessem sendo rasgadas por algo imenso. Mark se virou, segurando sua arma com mais firmeza.

"O que foi isso?" Emily perguntou, com um tom de pânico em sua voz.

"Fiquem quietos", Sarah ordenou, puxando-os para uma área mais escura. O coração batendo forte, ela sabia que qualquer ruído poderia atrair a atenção das criaturas. A respiração estava pesada, e os olhos de todos se fixavam nas sombras que agora pareciam estar se movendo de forma mais rápida e furiosa.

E então, o pior aconteceu.

A nave, com seus sistemas reconfigurados, estava tentando se defender. Os xenomorfos haviam encontrado uma maneira de se conectar com a rede central da Nemesis, transformando a própria nave em uma armadilha mortal. As paredes se fecharam, os corredores se estreitaram, e uma tempestade de ruídos alienígenas encheu o ar, enquanto o eco de passos pesados se aproximava.

Mas o mais aterrador de tudo não era a ameaça que se aproximava. Era o que eles encontraram.

Sarah, Mark e Emily chegaram à sala do reator. O painel de controle estava intacto, mas uma presença estranha os observava. Do canto escuro, algo se moveu. Uma figura, metade humana e metade alienígena, se materializou diante deles.

Era uma versão distorcida de Theo, seu corpo mutilado, mas ainda reconhecível. Seus olhos estavam vazios, e ele não parecia mais humano, mas uma fusão do que ele fora antes e o que as criaturas haviam feito dele. Ele estava ali, parado, observando-os com uma expressão vazia.

"Não… isso não pode ser possível", Emily sussurrou, a dor visível em seu rosto.

"Ele… está morto!" Mark gritou, dando um passo para trás, mas sua voz tremia de horror.

"Ele não está mais com a gente", Sarah disse, sua voz baixa, mas resoluta. "Isso é o que acontece quando eles nos tomam. Eles nos tornam parte de si."

O que restava de Theo olhou para eles, como se fosse uma marionete, e então sua voz distorcida e rasgada ecoou pela sala.

"Vocês estão todos destinados a se tornar parte de mim. Parte da nave."

As palavras de Theo se misturaram ao som da nave, como se ela também estivesse falando, a voz de todos os mortos fundida em um único grito.

E naquele momento, Sarah percebeu. A Nemesis, aquela nave aparentemente destruída, estava viva. Não apenas viva, mas possuída por algo maligno. As criaturas, a fusão de seres humanos e alienígenas, não estavam apenas tentando invadir o espaço, estavam tentando se fundir com tudo e todos. Eles estavam tentando controlar a própria essência da nave, transformando-a em um instrumento de destruição.

Mas Sarah não teria isso. Ela puxou sua arma e apontou para o que restava de Theo, os olhos cheios de tristeza, mas também de determinação.

"Eu vou te libertar, Theo. Todos nós."

Ela disparou.

O som do disparo ecoou, mas não trouxe alívio. A nave, agora completamente viva, reagiu. E Sarah sabia que a verdadeira luta, a última luta, estava apenas começando.

Continua...

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