Alastor Moody: As Cicatrizes da Coragem





Em um mundo onde o perigo parecia nunca cessar, a coragem se manifestava de formas inusitadas. Alastor “Mad-Eye” Moody, o temido auror do Ministério da Magia, não era um homem comum. Suas cicatrizes, tanto físicas quanto psicológicas, eram o reflexo de uma vida dedicada a enfrentar as trevas, a lutar contra as forças mais malignas que o mundo mágico já conhecera. Mas como todas as cicatrizes, elas não eram apenas marcas de dor, mas símbolos de resistência, sacrifício e um preço pago por aqueles que escolhiam combater o mal sem hesitar.

A história de Alastor começava em um campo de batalha onde, ainda jovem, ele já enfrentava o lado mais sombrio da magia. Seus olhos, agora cativantes e incomuns, eram o símbolo de sua determinação em estar sempre alerta, sempre vigilante, nunca permitindo que as trevas o surpreendessem. Mas esse olhar cauteloso, marcado pela desconfiança, vinha de algo mais profundo, algo que ele carregava desde sua juventude.

Naqueles primeiros anos, ainda em treinamento, Alastor sabia que a vida de um auror não seria fácil. Os professores do Ministério do Magia falavam das batalhas que enfrentariam, da importância de manter o foco, de nunca baixar a guarda. Porém, ninguém estava preparado para a verdadeira ferocidade da guerra que se aproximava. A ascensão de Lord Voldemort e os Comensais da Morte parecia inevitável, e Alastor logo se viu na linha de frente, onde a violência e a traição eram parte do dia a dia.

As cicatrizes de Alastor começaram a se formar ali, naqueles primeiros confrontos com a escuridão. Um feitiço mal direcionado, uma lâmina afiada de um Comensal da Morte, o impacto de um feitiço proibido – tudo isso contribuiu para a pessoa que ele viria a se tornar. Mas era o primeiro evento que realmente mudaria o curso de sua vida.

Em uma missão na Escócia, quando ele ainda era relativamente inexperiente, Alastor e sua equipe foram emboscados por um grupo de Comensais. Era um campo aberto, sem muitos lugares para se esconder, sem qualquer tipo de cobertura. Os feitiços voavam pela noite escura, os raios de luz azul e verde iluminando a escuridão. Em meio à batalha, Alastor foi atingido por um feitiço potente de Crucio, a maldição da dor. Seu corpo foi dobrado em uma dor insuportável, seu espírito quase sendo arrancado de sua carne. Ele gritava, mas não podia se mover, não podia se defender. Naquele momento, ele jurou que nunca mais seria vulnerável. Ele sabia que para sobreviver à guerra, teria que pagar o preço, e aquele preço seria alto.

O feitiço o deixou incapacitado por semanas, seu corpo e mente feridos. Mas mais do que as cicatrizes externas, a dor do Crucio foi a que mais o marcou. Era o terror profundo de ser impotente, de não poder proteger aqueles a quem amava. Mas ele não desistiu. Ele treinou ainda mais arduamente, se isolando de amigos e família, transformando-se em uma máquina de guerra.

Com o tempo, Alastor se tornou uma lenda. Suas cicatrizes, visíveis e invisíveis, eram testemunhas de sua resistência. Seus olhos mágicos, encantados para nunca piscar, serviam como lembretes da vigilância incessante que ele havia adotado. Cada cicatriz tinha uma história: o corte profundo em sua bochecha esquerda, resultado de uma batalha com um Comensal da Morte que tentou arrancá-lo com uma lâmina envenenada; o braço esquerdo marcado por uma explosão mágica que quase o matou, mas que ele conseguiu escapar, o último sobrevivente de sua equipe.

Mas a cicatriz mais dolorosa não era uma das que ele carregava visivelmente. A verdadeira dor de Alastor vinha de sua desilusão com aqueles em quem confiava. Um de seus maiores amigos, um companheiro de luta, havia se revelado um traidor, se aliando aos Comensais da Morte. Durante uma missão crucial, ele e sua equipe foram enviados para prender um grupo de Comensais em uma casa isolada. Quando chegaram lá, Alastor se deu conta de que o traidor já havia entregado os detalhes da missão aos inimigos. Eles foram atacados ferozmente. Na luta que se seguiu, seu amigo traidor foi morto, mas não antes de causar grandes danos. A perda de amigos, a dor de saber que alguém que ele considerava próximo poderia se virar contra ele, deixou marcas que nem mesmo o feitiço mais poderoso poderia apagar.

E foi por isso que Alastor, com o tempo, se tornou cada vez mais desconfiado, mais obcecado com a vigilância. Seu espírito, antes animado pela camaradagem, foi transformado em uma armadura de solidão. Ele se distanciou, não apenas dos amigos, mas de todos. O medo de que os outros o traíssem o fazia manter distância, e isso o tornava ainda mais isolado, mais excêntrico. Seus olhos, agora mágicos, estavam sempre alerta, sempre procurando sinais de perigo, sempre à espera da próxima traição. O mundo ao seu redor se tornara um campo de batalha constante, onde a confiança era uma fraqueza e a sobrevivência significava estar sempre um passo à frente da escuridão.

Quando Alastor se tornou um professor em Hogwarts, suas cicatrizes o acompanhavam. Ele estava sempre pronto para a luta, preparado para o pior, mas também consciente de que os tempos haviam mudado. O que o mago mais temia agora não eram os inimigos visíveis, mas a traição das próprias almas que ele tentava proteger. Mesmo em sua nova posição, ele nunca deixou de estar vigilante. Ele sabia que o mal nunca descansava e que, quando menos esperava, o perigo poderia aparecer.

As cicatrizes de Alastor Moody, portanto, não eram apenas marcas físicas de batalhas passadas, mas reflexos de uma vida moldada pela desconfiança, pela perda e pelo medo. Ele era o que a guerra fazia com alguém que se entregava totalmente a ela, e suas cicatrizes, mais do que feridas, eram os lembretes de uma verdade imutável: em um mundo de trevas, a coragem tem um preço, e, muitas vezes, esse preço é a própria alma.

Fim.

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