CENA ABERTA - Monstro: A História de Ed Gein – A Mente de um Assassino

A série Monstro: A História de Ed Gein, terceira temporada da antologia de Ryan Murphy e Ian Brennan, estreou em 3 de outubro de 2025 na Netflix. Produção para maiores de 18 anos, a série mergulha na vida do notório assassino e ladrão de túmulos Ed Gein, revelando como fatores internos e externos moldaram sua mente perturbada e explorando de forma crua os horrores de seus crimes.

Desde a infância, Gein viveu sob a influência opressiva de sua mãe, Augusta, uma mulher profundamente religiosa e obcecada com os “pecados do mundo”. A criação rígida e dominadora instilou nele medo, culpa e uma visão distorcida da moralidade e da pureza feminina, marcando o início de sua trajetória de isolamento e obsessões macabras. Além disso, Gein apresentava traços constantes de esquizofrenia, que aprofundavam seu afastamento da realidade e potencializavam seu fascínio pelo macabro.

Seu interesse pelo horror se expandiu para influências externas, incluindo as atrocidades nazistas e figuras de extrema crueldade como Ilse Koch, conhecida como a “Cadela de Buchenwald”, cuja brutalidade reforçou sua fixação pelo sofrimento humano. Ele também se fascinava por histórias de true crime, consumindo relatos de crimes como se fossem manuais psicológicos.

Um diferencial da série é a mescla de linhas do tempo. Enquanto acompanha a vida de Gein, mostrando seus crimes e obsessões, a produção transporta o espectador para o futuro, acompanhando Alfred Hitchcock observando a reação do público a Psicose, inspirado na história de Gein, e Tobe Hooper e Kim Henkel se inspirando em suas atrocidades para criar O Massacre da Serra Elétrica e o icônico Leatherface. Em outro momento, a série faz uma ponte com O Silêncio dos Inocentes, evidenciando como o personagem Buffalo Bill também foi moldado a partir dos horrores cometidos por Gein, especialmente seu desejo de confeccionar uma “pele humana perfeita”.



Em certa forma, a série também mostra que não foi apenas o cinema que bebeu das atrocidades de Ed Gein, mas que sua vida influenciou outros serial killers. Entre eles, Jerry Brudos e Robert Franklin Stroud, conhecido como o Birdman, que aparece na narrativa como fascinado por Gein. Esses paralelos estabelecem conexões entre os crimes de Gein e padrões de comportamento de assassinos posteriores, reforçando o legado sombrio do personagem e como sua psicologia perturbada reverberou em outros criminosos.

Um elemento de grande destaque é a ambiguidade entre realidade e percepção de Gein, explorada através da personagem Adeline. Em muitos momentos, o espectador não sabe o que é real e o que é fruto da esquizofrenia do assassino. Adeline às vezes aparece como amiga de Ed, outras vezes como uma possível esposa, mas também apresenta uma mente doentia e grotesca, validando as atitudes do assassino. A série mantém a dúvida sobre se Adeline é real ou apenas mais uma manifestação da mente perturbada de Gein, reforçando o terror psicológico e a instabilidade de sua percepção.

A produção se destaca ainda por pequenos detalhes sutis que aprofundam a experiência e o entendimento do ambiente em que Ed Gein vivia. Em cenas em primeira pessoa, é mostrado seu daltonismo, com ele enxergando verde em objetos e até no sangue, além da constante presença de traças e mariposas voando pela casa, que se alimentavam de colágeno e outros materiais em decomposição. Esses insetos refletem o mal cheiro e o estado de degradação nos locais onde o maníaco criava utensílios domésticos com pele e ossos humanos exumados. A série não poupa o espectador de outros aspectos doentios de sua vida, incluindo necrofilia e rituais macabros, mas os apresenta de forma contextualizada, reforçando a psicologia perturbada do personagem.

Especialistas em psiquiatria e criminologia analisam o cotidiano de Gein, explicando como sua criação familiar, esquizofrenia e obsessões externas moldaram sua mente doentia. Essa abordagem oferece uma visão mais profunda e complexa do personagem, tornando a narrativa mais rica do que um simples retrato de crimes.

Charlie Hunnam entrega uma performance intensa e completamente imersiva, trazendo à vida tanto a monstruosidade quanto a vulnerabilidade de Ed Gein. O ator consegue transmitir o isolamento e a obsessão do personagem, explorando nuances que vão além do horror físico, revelando a fragilidade emocional, o medo e a confusão de alguém marcado por traumas infantis e distúrbios mentais graves. Hunnam alterna entre momentos de aparente normalidade e explosões de comportamento perturbador, capturando com precisão a instabilidade de uma mente esquizofrênica. Sua interpretação não se limita a chocar; ela também provoca reflexão sobre como fatores como criação familiar, influência materna e fascínio pelo mal moldaram um assassino tão notório. Essa performance se torna o ponto central da série, oferecendo ao público uma experiência quase claustrofóbica de entrar na mente de Gein, tornando a narrativa muito mais profunda e impactante.

Com estética sombria e perturbadora, Monstro combina horror psicológico com estudo de caráter, mostrando que a realidade pode ser tão aterrorizante quanto qualquer ficção. Ao explorar infância, psicopatologia, fascínio pelo mal, sutilezas perceptivas, horror físico, ambiguidades mentais e a conexão com a indústria cinematográfica de terror, além de paralelos com outros serial killers, a série revela como múltiplos fatores convergiram para criar um dos assassinos mais notórios e influentes da história americana.

A série está completa em 8 episódios, e todos estão disponíveis na Netflix. Não perca a oportunidade de mergulhar na mente de Ed Gein e descobrir como suas atrocidades influenciaram o cinema e o mundo do crime real.


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