Estreou na última semana de setembro a House of Guinness, série criada por Steven Knight, também responsável por Peaky Blinders. O drama de época parte de uma premissa poderosa: o impacto da morte de Sir Benjamin Lee Guinness, na década de 1860, e a disputa entre seus quatro filhos pelo legado da cervejaria e pelo controle de uma das famílias mais influentes da Irlanda vitoriana.
Os primeiros episódios são marcados por intensidade e consistência histórica. A trama abre espaço para tensões sociais e religiosas que marcaram a Irlanda do século XIX, especialmente a relação entre protestantes e católicos, os reflexos do colonialismo britânico e o papel da indústria como motor político. Com cenários grandiosos, fotografia sombria e figurinos luxuosos, a série cria uma atmosfera envolvente que transporta o espectador para um período de transição e conflito.
O problema é que a força inicial se dissipa. House of Guinness começa ancorada em debates políticos e sociais que poderiam oferecer densidade dramática e reflexão histórica, mas aos poucos cede ao melodrama. O que poderia ser um estudo complexo sobre poder e sociedade se transforma em uma sucessão de romances mal resolvidos, segredos familiares e disputas amorosas tratadas com excesso de teatralidade. A virada de foco transforma o que era drama político em uma “vida de comédia privada”, diminuindo o impacto narrativo.
O elenco segue competente, entregando atuações que sustentam o interesse, mas o roteiro acaba refém de clichês. Intrigas familiares, traições previsíveis e paixões proibidas se tornam centrais, enfraquecendo a crítica social e diluindo a promessa inicial da série. A fidelidade histórica também é alvo de polêmicas: membros da família Guinness e críticos irlandeses apontam distorções e caricaturas, acusando a produção de privilegiar escândalos ficcionais em detrimento da verdade histórica.
Em resumo, House of Guinness é uma série de contrastes. Impressiona na estética, nas atuações e em sua proposta inicial, mas se perde quando escolhe os atalhos do romance melodramático em vez de manter o vigor político e social que prometia. Steven Knight entrega entretenimento de qualidade visual, mas o faz às custas da profundidade que poderia tornar a série um retrato memorável da Irlanda do século XIX.

Comentários
Postar um comentário